Barbie

cemitério do esplendor
2 min readJan 23, 2024

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Por: João Marco

De certo modo, Barbie complementa os dois filmes anteriores da Greta (Lady Bird e Adoráveis Mulheres) ao mesmo tempo que se distancia radicalmente deles em sua abordagem estética e até mesmo em como explora seu discurso. Em outras palavras, o que antes era movido pela sutileza, aqui é guiado inteiramente pelo explícito e, horas, didático de forma descomedida e, dentro desse mundo particular que a cineasta cria, isso se integra organicamente e comunica com pesar os problemas de uma sociedade instituída em noções patriarcais de mundo. Os olhares desconfortáveis ou comentários sexistas proferidos tanto por civis quanto pela força policial é, aqui, evidenciado de maneira objetiva, sem qualquer sutileza em como tais gestos são filmados e colocados sobre a perspectiva de uma personagem que está descobrindo um "mundo novo" que se comporta com uma percepção ultrapassada. Nesse sentido, o humor tem um equilíbrio certeiro para jamais interferir no que a cineasta almeja transmitir.

Na verdade, se tem algo que Barbie entende bem é onde encaixar o seu humor sem prejudicar qualquer parte do discurso e mantendo a coesão de sua unidade cartunesca a todo instante. Greta sabe onde a piada termina e onde o peso do discurso entra, trazendo consigo a sensibilidade dramática que exemplificou em seus filmes predecessores. Quando a obra precisa evidenciar atos de assédio ou machismo, sempre evita torná-los cômicos, mas sim ridicularizar cada um daqueles que o fazem, a exemplo das sequências com o Will Farrell ou até mesmo o comportamento dos Kens após a metade da narrativa. A diretora entende quão desconfortável é o ato e extrai comicidade ao desprezar completamente os responsáveis por tal ação.

E, nesse equilíbrio cênico do discurso, a cineasta mantém aquele universo dentro de suas regras, encontrando na sua simplicidade estrutural, uma aventura que faz bem ao misturar diversas influências. Afinal, onde que se imaginaria ver um filme digital na Hollywood contemporânea que fosse tão encantado pelo cinema Technicolor? Ou, como recordou o Michel Gutwilen no seu comentário, onde seria possível uma aposta de estúdio ser, na verdade, lembrar obras como Dick ou But I'm a Cheerleader ou o cinema de diretoras como Amy Heckerling? Toda essa dimensão de cores e estímulos constitui um mundo que opera com encanto ao divagar por esse universo plástico e suas possibilidades cênicas, seja na comédia screwball infantilizada e sem qualquer receio de ser feliz com seus exageros ou nas peculiaridades de seus personagens (o palavrão censurado da Issa Rae, a narradora intervindo a performance da Margot Robbie ou as cenas musicais com o Ken do Ryan Gosling).

Barbie é uma miscelânea muito bem orquestrada que mantém bem o tom cômico e a sua unidade exagerada sem desprezar as sutilezas dramáticas da sua narrativa e a importância do que almeja falar.

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