Homem-Aranha: Através do Aranhaverso

cemitério do esplendor
2 min readJan 23, 2024

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Por: João Marco

Limitar tudo o que se faz aqui ao mero fanservice - que se costuma observar na exploração do personagem sob a tutela do Kevin Feige - é um erro abissal e que invalida a sobrecarga formalista que se acumula em um ritmo tão frenético de imagem que mal dá pra processar os menores detalhes. As pequenas coisas se mesclam com as grandiosas, uma imagem se encaixa na outra ou, em outras palavras, simplesmente desconstrói a anterior e assim por diante em um fluxo artístico tão compulsivo que é extraordinário de testemunhar. Ok, tudo que ocorre aqui no que engloba a ornamentação cênica já havia sido bem consolidado no capítulo anterior. Mas, no nível que os diretores dessa sequência estabelecem aqui é realmente incomparável. Um verdadeiro bombardeio que vai de uma expressão ou movimento da arte ao outro sem qualquer restrição. Que tenha legos e citações até aos live-actions do personagem, estrelados por maguire e garfield, isso é um mero detalhe, já que o fascinante aqui é se deixar levar por qual composição estilística vai se intregar a essa unidade audiovisual anárquica.

As sequências na terra da Spider Gwen são o grande destaque: além das constantes inversões de cores dos personagens em cada corte, os backgrounds com pinturas borradas e abstratas dão um aspecto tão particular que, de algum modo, reforçam o contexto dramático da cena através do espaço e das recorrentes mudanças que ele sofre. E o mesmo se segue em diversos instantes, seja ao inserir transições que alternam entre um plano e o outro no mesmo take, seja ao brincar com as possibilidades gráficas de um universo essencialmente maleável, desde o comportamento físico dos seus personagens (as poses da gwen que, em certos momentos, replicam passos de balé) até a maneira como interagem entre si e com os cenários ao seu redor. Luz, cor, sombra e os constantes estímulos intensos auxiliam a intensificar cada fundamento da dramaturgia do texto, transpondo os arcos com uma fluidez que se equivale a sua densidade ao discorrer sobre, em especial, vínculos familiares e o "canon" como uma inevitabilidade da tragédia na vida das inúmeras encarnações do Homem-Aranha.

Em tempos que o nicho dos super-heróis se tornam cada vez mais automatizados e burocráticos, ver arte abstrata, cultura punk e pop-art em uma produção do subgênero (se é que ele já pode ser classificado de tal modo) é minimamente encantador até para o mais amargurado dos paladares cinematográficos. Através do Aranhaverso é realmente um presente em meio a tanta falência criativa em Hollywood.

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