Os Novos Mutantes
Por: João Marco
(Publicado originalmente em 2020)
Os conflitos entre a visão autoral de um diretor e as exigências comerciais de um estúdio quase sempre fragmentam o resultado final de uma obra. E, mesmo que isso não tenha ficado tão explícito nos bastidores de Os Novos Mutantes, ao observar a obra finalizada após diversos adiamentos em sua data de lançamento, é claro notar como Josh Boone sofreu ao ter que servir a uma direção da empresa, deixando seu trabalho em um meio termo problemático entre uma dinâmica mais particular e soluções audiovisuais puramente encomendadas comercialmente. E a dissolução final de tudo não poderia ter sido mais deprimente.
É visível que Josh Boone esboça boas ideias em seu contorno e existe uma tentativa genuína de tentar algo “particular” com a linguagem, os minutos iniciais são relativamente operantes dentro de uma dinâmica de descoberta, tanto dos personagens como do espaço do “hospital”. Todavia, esse pequeno interesse é rapidamente dilacerado pelo tom pasteurizado da narrativa que opera entre os interesses autorais de Boone e a abordagem exigida pelo estúdio, gerando assim um filme de indecisões e que jamais consegue escolher uma proposta para abordá-la até o seu desfecho.
Tal indecisão acaba por afetar outros setores da narrativa, como pode ser visto na dinâmica dramática dos personagens e entre o grupo: existe uma dramaturgia interessante no roteiro de Boone e Knate Gwaltney, mas ela acaba sendo prejudicada por uma abordagem superficial do componente emocional e as sequências de “terror psicológico” entram nessa equação de maneira aleatória e pouco eficaz.
Com isso, arcos como o da Illyanna (Anya Taylor-Joy) e até mesmo o da “protagonista”, Danielle (Blu Hunt) acabam se tornando meros elementos sem o peso necessário. E como se não fosse o suficiente, os realizadores se contentam com um clímax que une todos os artifícios e soluções visuais genéricas para compensar a ausência de ação do decorrer da trama.
Na verdade, é até complicado avaliar um filme tão morno como Os Novos Mutantes: todas as ideias propostas (ou sugeridas) são iniciadas, mas nunca finalizadas, todos os componentes dramáticos da obra são superficiais em seu tratamento e, basicamente, quase tudo que envolve o elemento fantasioso dos super-heróis é uma checklist burocrática e desinteressante. É um filme sem alma, um “adeus” apático a uma franquia que já foi mais expressiva do que isso.